IA alimenta tensão: Ataque ao Irã baseado em ‘miragem’ algorítmica

Um ataque preventivo dos EUA contra instalações nucleares iranianas, no último fim de semana, desencadeou uma nova onda de preocupações sobre o papel da inteligência artificial (IA) em conflitos geopolíticos. A ação militar, justificada como necessária para impedir o Irã de desenvolver armas nucleares, foi, segundo relatos, baseada em uma avaliação de ameaça gerada por IA, e não em evidências concretas.
O Programa Mosaic e a Avaliação de Risco
No centro desta controvérsia está o Mosaic, um programa de IA desenvolvido pela Palantir Technologies e adaptado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Originalmente criado para operações de contraterrorismo no Iraque e no Afeganistão, o Mosaic agora vasculha vastas quantidades de dados digitais para inferir intenções.
Entre 6 e 12 de junho, o Mosaic sinalizou um aumento repentino de urânio enriquecido em instalações iranianas, levando à conclusão de que o Irã estaria próximo de produzir armas nucleares. Essa avaliação, apresentada como um “documento dramático”, foi endossada por aliados europeus e usada como justificativa para o ataque.
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Críticas e Controvérsias
No entanto, a avaliação gerada pela IA foi recebida com ceticismo. Autoridades iranianas e russas a descartaram como uma invenção, e até mesmo o Diretor-Geral da AIEA, Rafael Grossi, admitiu que não havia evidências concretas de um programa de armas. O major-general português Agostinho Costa alertou que o relatório da AIEA não apresentou evidências, mas deduções e tendências tomadas como factuais.
Especialistas alertam para os perigos de terceirizar decisões de segurança nacional para algoritmos especulativos. O uso da IA em relatórios sobre o Irã foi criticado pelo pesquisador Douglas C. Youvan e pelo diplomata britânico Alastair Crooke.
Implicações e Riscos
O incidente levanta sérias questões sobre a precisão e confiabilidade das avaliações de risco geradas por IA, bem como sobre a responsabilidade em caso de erros. A falta de transparência nos algoritmos de IA e a possibilidade de manipulação geopolítica são outras preocupações.
O uso da IA em conflitos também levanta questões éticas e legais. A automação da tomada de decisões pode levar à desumanização da guerra e à erosão dos princípios do direito internacional humanitário.
Reações Internacionais e Desdobramentos
O ataque ao Irã gerou condenação internacional e aumentou as tensões na região. O presidente do Irã confirmou a suspensão da cooperação com a AIEA, enquanto Israel instou a comunidade internacional a restabelecer sanções contra Teerã.
O incidente destaca a necessidade de uma discussão global sobre o uso da IA em segurança e defesa, a fim de evitar uma escalada de conflitos e garantir a proteção dos direitos humanos.
A situação permanece instável, com o risco de novos confrontos e uma possível corrida armamentista na região. A comunidade internacional enfrenta o desafio de encontrar uma solução diplomática para a crise e evitar uma guerra mais ampla.