Educadores e cientistas preocupados com o uso excessivo de IA e seu impacto na aprendizagem

O uso crescente da inteligência artificial (IA) entre estudantes tem gerado preocupações em todo o mundo sobre os impactos dessa ferramenta na aprendizagem. Educadores e cientistas alertam para os riscos do uso excessivo de IA, especialmente quando ela substitui o esforço mental e não serve como apoio ao aprendizado.
Estudo do MIT
Um estudo recente do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), divulgado em junho, indica que o uso contínuo de ferramentas como o ChatGPT pode prejudicar a capacidade de concentração, criatividade e pensamento crítico de jovens em fase escolar. Os pesquisadores do MIT Media Lab descobriram que os participantes que utilizaram modelos de IA apresentaram desempenho inferior em aspectos neurais, linguísticos e comportamentais ao longo de quatro meses.
A pesquisa envolveu 54 voluntários, divididos em três grupos para a realização de uma redação. O primeiro grupo utilizou exclusivamente o ChatGPT; o segundo recorreu apenas a buscadores tradicionais, como o Google; já o terceiro grupo teve que contar apenas com seus próprios conhecimentos, sem apoio de nenhuma ferramenta digital. Os resultados mostraram que aqueles que usaram apenas seus próprios conhecimentos apresentaram o maior senso de autoria.
Os resultados do estudo levantam preocupações sobre as implicações educacionais de longo prazo da dependência de LLMs (modelos de linguagem de larga escala) e ressaltam a necessidade de uma investigação mais aprofundada sobre o papel da IA na aprendizagem.
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Preocupações no Brasil
No Brasil, o debate sobre o uso da IA já chegou às salas de aula. Professores relatam que muitos alunos utilizam a IA como um atalho para respostas prontas, sem checar fontes, refletir sobre os conteúdos ou desenvolver sua argumentação. Thatiana Soares, professora do Senac-DF, observa que muitos alunos fazem “Ctrl C + Ctrl V”, o que dificulta a avaliação do conhecimento, da escrita e da argumentação.
Uma pesquisa realizada pela Ipsos em parceria com o Google revelou que o Brasil está entre os países que mais utilizam inteligência artificial. Esse dado, juntamente com a percepção de que muitos estudantes não estão utilizando a IA de forma crítica e reflexiva, gera preocupação entre educadores e especialistas.
Riscos e desafios do uso da IA na educação
O uso excessivo da IA pode trazer diversos riscos e desafios para a educação:
- Dependência: O uso constante de sistemas baseados em IA pode levar a uma diminuição da habilidade de aprender de forma autônoma, comprometendo o desenvolvimento do pensamento crítico e da resolução criativa de problemas.
- Desinformação: A IA pode ser uma fonte de informações incorretas ou desatualizadas, prejudicando o aprendizado dos alunos. É fundamental que estudantes e professores chequem os dados obtidos para não acessarem bases de conhecimento imprecisas.
- Plágio: A facilidade de acesso a conteúdo por meio de ferramentas de IA pode aumentar os casos de plágio acadêmico.
- Desigualdade: A falta de acesso igualitário às tecnologias de IA pode exacerbar as desigualdades educacionais.
- Perda da interação humana: O uso exagerado da IA pode levar a um distanciamento entre alunos e professores, afetando o aprendizado e a afetividade.
Como usar a IA de forma eficaz na educação
Apesar dos riscos, a IA pode ser uma ferramenta poderosa para aprimorar a educação, desde que utilizada de forma equilibrada e responsável. Algumas dicas para usar a IA de forma eficaz incluem:
- Utilizar a IA como um complemento ao estudo, e não como substituto do esforço mental.
- Incentivar o pensamento crítico e a reflexão sobre os conteúdos gerados pela IA.
- Desenvolver um uso ético da IA, combatendo o plágio e a desinformação.
- Promover a inclusão digital, garantindo que todos os alunos tenham acesso às tecnologias de IA.
- Estimular a interação humana e a afetividade no processo de ensino-aprendizagem.
O papel dos educadores
Os educadores desempenham um papel fundamental na implementação da IA nas escolas. É importante que os professores estejam familiarizados com as ferramentas de IA e saibam como integrá-las ao ensino de forma eficaz. Além disso, os professores devem orientar os alunos sobre como usar a IA de forma crítica, ética e responsável.
A Unesco lançou um guia para o uso da IA na educação, que alerta para a necessidade de regulamentação e formação de professores sobre o tema. O guia também estabelece um limite de idade mínima de 13 anos para o uso de IA em sala de aula.
Conclusão
O uso excessivo de IA na educação é uma preocupação crescente entre educadores e cientistas. No entanto, se utilizada de forma equilibrada e responsável, a IA pode ser uma ferramenta poderosa para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem. É fundamental que educadores, alunos e instituições educacionais estejam conscientes dos riscos e desafios da IA e trabalhem juntos para garantir que essa tecnologia seja utilizada de forma ética, crítica e inclusiva.