Advogada tem recurso negado em SC por erros de IA

Uma advogada em Santa Catarina teve um revés judicial após utilizar inteligência artificial (IA) na elaboração de um recurso. O Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) negou provimento ao recurso, classificando a conduta como má-fé e desrespeito à Justiça devido à presença de citações de precedentes inexistentes ou atribuídos a pessoas erradas.
O Caso
A desembargadora Cinthia Beatriz Da Silva Bittencourt Schaefer, relatora do caso, identificou que a petição continha informações incorretas sobre estados de origem de decisões e atribuições equivocadas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Especificamente, um Habeas Corpus foi erroneamente atribuído ao Paraná, quando a decisão era do Espírito Santo, e um voto do ministro Ricardo Lewandowski foi incorretamente vinculado ao ministro Edson Fachin.
A advogada defendia um homem condenado a quatro anos e três meses de reclusão, em regime inicial semiaberto, por disparo de arma de fogo e porte ilegal de armas.
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Decisão e Implicações
A desembargadora Schaefer classificou a conduta da advogada como má-fé, ressaltando que tal atitude presume que as petições não são analisadas de forma minuciosa pelo Tribunal e tenta induzir a erro para obter uma decisão favorável com base em premissas falsas. Apesar da crítica, a relatora ressaltou que a tecnologia pode ser utilizada por profissionais do direito, desde que respeitados os princípios éticos da advocacia.
O caso levanta questões sobre a responsabilidade e a ética no uso da IA no Direito. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) já publicou recomendações sobre o uso de IA por advogados, orientando que o recurso à tecnologia deve observar a legislação vigente, manter a confidencialidade dos dados, preservar a prática jurídica ética e assegurar transparência na comunicação com os clientes, incluindo a revisão humana de todo o material produzido.
OAB Alerta sobre o Uso da IA
Em novembro de 2024, a OAB publicou recomendações sobre o uso da Inteligência Artificial por advogados. O documento orienta que o uso da tecnologia deve observar a legislação, manter a confidencialidade dos dados, preservar a prática jurídica ética e assegurar transparência na comunicação com os clientes, incluindo revisão humana de todo o material produzido.
Riscos e Responsabilidades da IA no Direito
A utilização da IA no Direito, embora promissora, apresenta riscos que exigem cautela. Um dos principais é a possibilidade de erros devido a dados imprecisos, algoritmos falhos ou compreensão limitada das particularidades dos casos jurídicos. Esses erros podem ter consequências significativas, como decisões judiciais incorretas ou falhas na proteção dos direitos dos clientes.
A responsabilidade jurídica por erros ou falhas de IA é um tema complexo. É essencial determinar quem será responsabilizado em caso de decisões incorretas ou danos causados por sistemas de IA. A falta de regulamentação específica no Brasil exige que as empresas e os profissionais do Direito redobrem a cautela ao utilizar a IA.
Recomendações para o Uso Ético da IA no Direito
Para que a IA seja uma aliada do sistema jurídico, é essencial investir em:
- Regulamentação ética e legal clara;
- Transparência nos algoritmos utilizados;
- Capacitação técnica e ética dos operadores do Direito;
- Adoção de critérios de controle e auditoria sobre os sistemas de IA.
Profissionais do direito devem adotar uma postura crítica ao avaliar os resultados gerados por sistemas de IA. Isso inclui a validação dos dados fornecidos pela IA com informações independentes e a consideração de múltiplas fontes antes de formular opiniões ou tomar ações com base nesses dados.
O uso da IA no Direito exige uma combinação de inovação e responsabilidade. A tecnologia pode auxiliar na automação de tarefas, análise de dados e sugestões jurídicas, mas a supervisão humana e a ética profissional são indispensáveis para garantir a justiça e a proteção dos direitos dos cidadãos.
A crescente utilização de ferramentas de IA no Direito tem levantado debates sobre a necessidade de regulamentação e a responsabilidade por eventuais erros. A OAB e outros órgãos estão atentos a essa questão, buscando garantir que a tecnologia seja utilizada de forma ética e responsável, em benefício da sociedade e da justiça.