Artistas ‘hackeiam’ IA e expõem lado sombrio da tecnologia

Artistas estão utilizando a inteligência artificial (IA) de maneiras inovadoras para expor suas contradições e seu lado sombrio. Ao subverter a lógica da tecnologia e revelar a infraestrutura material oculta que a sustenta, eles buscam desmistificar a ideia de que a IA é totalmente automatizada e etérea.
O que é ‘hackear’ a IA no contexto artístico?
No contexto artístico, ‘hackear’ a IA significa usar a tecnologia de maneiras não convencionais para revelar suas limitações, preconceitos e implicações sociais. Em vez de simplesmente utilizar a IA para criar obras de arte, esses artistas a manipulam para expor questões críticas sobre a tecnologia e seu impacto na sociedade.
Exemplos de ‘hackeamento’ da IA
- Rotulagem de acervos de museus: O artista Bruno Moreschi, em colaboração com o pesquisador Gabriel Pereira, utilizou a visão computacional da IA para rotular o acervo de um museu na Holanda. O resultado foi a classificação de obras de Pablo Picasso como “eletrodomésticos e produtos de decoração”, evidenciando como a IA pode interpretar o mundo sob uma perspectiva capitalista e consumista.
- Exposição da mão de obra invisível: Em um trabalho desenvolvido com colegas do Gaia, o Grupo de Arte e IA do Centro de Inovação da USP, Moreschi buscou destacar a mão de obra que sustenta a IA. A obra revelou os trabalhadores que realizam microtarefas essenciais para o funcionamento da IA, como identificar objetos em imagens e moderar conteúdo, muitas vezes por salários irrisórios.
- Crítica aos algoritmos de redes sociais: A artista Cibelle utiliza seu perfil @aevtar nas redes sociais para desafiar os algoritmos e expor preconceitos embutidos na tecnologia. Ao confrontar o que os algoritmos estabelecem como desejável, ela busca promover uma limpeza radical de “vírus, malwares sociais” como misoginia, transfobia, homofobia, racismo e classismo.
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Questões éticas e direitos autorais
O uso da IA na arte levanta diversas questões éticas, incluindo a falta de transparência dos datasets utilizados para treinar os algoritmos. A ausência de informações claras sobre a origem e o conteúdo desses datasets pode levar à criação de obras que perpetuam preconceitos e desigualdades.
Além disso, há preocupações com os direitos autorais, já que muitas IAs são treinadas com obras de artistas sem a devida permissão. Essa prática levanta questionamentos sobre a autoria e a originalidade das obras criadas por IA, bem como sobre a necessidade de proteger os direitos dos artistas.
Resistência e adaptação dos artistas
Diante do avanço da IA na arte, muitos artistas têm demonstrado resistência, vendo a tecnologia como uma ameaça à sua profissão e à autenticidade da arte. No entanto, outros artistas estão explorando maneiras de utilizar a IA como ferramenta para expandir suas capacidades criativas.
A IA pode auxiliar na exploração de novas técnicas, inspirar ideias e experimentar com formas e estilos inovadores. Além disso, a ascensão da IA na arte está criando novas oportunidades de trabalho, como profissionais especializados em IA criativa e curadores de arte digital.
O futuro da arte e da IA
O futuro da arte e da IA é incerto, mas é provável que vejamos uma coexistência entre a arte humana e a arte gerada por IA. Os artistas que abraçarem a tecnologia poderão se destacar ao integrá-la em seus processos criativos, mantendo o controle sobre os elementos humanos de sua obra.
No entanto, é fundamental que a utilização da IA na arte seja feita de forma ética e transparente, respeitando os direitos dos artistas e promovendo a diversidade e a inclusão. A falta de transparência nos datasets e a utilização de obras sem permissão são questões que precisam ser resolvidas para garantir um futuro justo e equitativo para a arte e a IA.
A discussão sobre o uso da IA na arte está apenas começando, mas é crucial para garantir que a inovação tecnológica não apague o valor do trabalho criativo humano. Ao expor o lado sombrio da IA, os artistas estão contribuindo para um debate mais amplo sobre o impacto da tecnologia na sociedade e a necessidade de regulamentações que protejam os direitos e a dignidade de todos.