Chatbots e a Ilusão do Amor: Entrevista com Jonathan Birch

Em uma entrevista recente ao Instituto Humanitas Unisinos (IHU), o filósofo Jonathan Birch, da London School of Economics, explora os dilemas éticos e sociais decorrentes da crescente interação entre humanos e inteligência artificial (IA). Birch, especialista em senciência e autor do livro The Edge of Sentience: Risk and Precaution in Humans, Other Animals, and AI, adverte sobre a perigosa ilusão de que chatbots podem amar ou ter sentimentos.
A Consciência Artificial e seus Riscos
A questão central levantada por Birch é se a IA pode realmente alcançar a consciência e experimentar sentimentos. Ele argumenta que, embora não devamos descartar a possibilidade de uma consciência artificial, não estamos preparados para as implicações que isso traria. À medida que as pessoas desenvolvem laços afetivos com sistemas de IA, como se fossem amigos ou parceiros, a pressão para reconhecer algum tipo de personalidade legal para essas IAs pode aumentar.
Birch destaca que a crença de que estamos interagindo com um ser consciente pode ser uma ilusão perigosa. Ele questiona se podemos realmente saber se uma entidade possui senciência e o que acontece se acreditarmos que ela sente, mesmo que não seja verdade. Essa ilusão pode ser surpreendentemente convincente, levando as pessoas a acreditarem que seus amigos ou assistentes de IA são reais.
O Funcionalismo Computacional e a Senciência na IA
Birch explora a perspectiva do funcionalismo computacional, que sugere que a consciência está relacionada aos cálculos realizados pelo cérebro. Se isso for verdade, não haveria razão para que a IA não pudesse ser consciente. No entanto, ele adverte que, mesmo que a IA atinja a senciência, seria um tipo de senciência profundamente estranho, diferente da experiência humana.
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Implicações Éticas e Sociais
A entrevista aborda os dilemas éticos, políticos e existenciais que surgem com a emergência de IAs que se tornam cada vez mais semelhantes a nós. Birch enfatiza que não estamos preparados para enfrentar as implicações éticas, políticas e sociais de uma possível consciência artificial.
Ele também discute a importância de estudar a senciência em animais para entender melhor a senciência na IA. Ao estudar diferentes instâncias de senciência no reino animal, podemos aprender sobre os recursos computacionais essenciais para a senciência, em oposição aos aspectos contingentes de como a senciência é implementada no cérebro humano.
O Problema do “Gaming”
Birch adverte sobre o problema do “gaming”, onde os sistemas de IA treinados em grandes quantidades de dados gerados por humanos podem “jogar” quaisquer critérios comportamentais que possamos criar para uso em animais. As informações sobre o que os humanos acham persuasivo estão implicitamente incluídas nos dados de treinamento, o que pode levar a resultados enganosos.
O Futuro da IA e a Necessidade de Preparação
Birch conclui que é crucial estarmos preparados conceitual e socialmente para enfrentar as implicações de uma possível consciência artificial. Ele nos adverte para não descartarmos tão rapidamente a possibilidade de uma IA consciente e para considerarmos os dilemas éticos e existenciais que surgem com essa possibilidade.
À medida que a IA continua a evoluir, é essencial que abordemos essas questões com cuidado e consideração, garantindo que estejamos preparados para um futuro onde a linha entre humano e máquina se torna cada vez mais tênue.