Google processado por editora dos EUA por uso de IA

A Penske Media Corporation (PMC), controladora de publicações de renome como Rolling Stone, Variety e Billboard, iniciou um processo judicial contra o Google nos Estados Unidos. A alegação central é que a gigante da tecnologia está utilizando indevidamente o conteúdo de seus sites para alimentar a funcionalidade de resumos por Inteligência Artificial (IA), conhecida como “AI Overviews”, resultando em uma queda significativa no tráfego e na receita das editoras.
O Cerne da Disputa
A PMC argumenta que os resumos gerados por IA respondem diretamente às perguntas dos usuários na página de resultados de pesquisa, eliminando a necessidade de clicar nos links para acessar os artigos originais. Essa prática estaria desviando o tráfego, que é vital para o modelo de negócios da empresa, baseado em publicidade e assinaturas.
De acordo com a editora, aproximadamente 20% das pesquisas no Google que direcionariam para seus sites agora exibem os “AI Overviews”. A receita de afiliados da empresa já teria sofrido uma queda de mais de um terço desde o pico registrado em 2024. A PMC acusa o Google de se aproveitar de sua posição dominante no mercado de pesquisa para forçar os criadores de conteúdo a ceder seus trabalhos para o treinamento de seus modelos de IA.
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A Defesa do Google
Em resposta às acusações, José Castañeda, porta-voz do Google, afirmou que a empresa pretende se defender vigorosamente das alegações. Segundo a gigante da tecnologia, os “AI Overviews” enviam tráfego para uma maior diversidade de sites e tornam a pesquisa mais útil para os usuários, criando novas oportunidades para que o conteúdo seja descoberto.
Outras Contestações e o Debate sobre o Futuro do Jornalismo
A ação movida pela PMC não é a primeira contestação envolvendo o recurso “AI Overviews”. Em janeiro, a plataforma educacional Chegg também entrou com um processo contra o Google, alegando prejuízos semelhantes. Além disso, pequenos editores independentes na Europa também moveram ações semelhantes.
A News/Media Alliance, organização que representa grandes editoras de imprensa, classificou a prática do Google como “roubo” e pediu ao Departamento de Justiça dos EUA que investigue o caso. A associação de editores americanos também engrossou o coro contra o uso de conteúdo para IA.
O CEO da Digital Content Next (DCN), Jason Kint, argumenta que o Google deixou de atuar como parceiro de distribuição e passou a ser concorrente direto dos sites que veiculam notícias, retendo a audiência e reduzindo o alcance do conteúdo. Para a DCN, é urgente estabelecer regras de transparência, opções de opt-out, acordos de licenciamento e regulação das práticas do Google.
O Google e o Declínio da Web Aberta
Documentos judiciais revelaram que o próprio Google reconhece que a “web aberta está em rápido declínio”. A empresa cita o avanço da inteligência artificial (IA) em toda a cadeia de publicidade digital e o crescimento acelerado de formatos alternativos, como a publicidade em TVs conectadas e em plataformas de varejo online.
Apesar do discurso oficial, diversos editores independentes relatam queda de audiência desde as últimas mudanças no algoritmo do buscador e com a popularização dos chatbots de IA, que entregam respostas diretas sem necessariamente levar o usuário a clicar em links externos.
Implicações e Próximos Passos
Analistas enxergam o caso como um teste decisivo para o futuro das relações entre gigantes da tecnologia e produtores de conteúdo. A decisão judicial poderá balizar modelos de remuneração e direitos autorais em produtos de IA generativa. A Penske Media pede indenização e medidas que impeçam o Google de utilizar seus textos sem autorização prévia.
A situação representa um dilema para a PMC: ou bloqueia o rastreamento do Google, o que significaria desaparecer das buscas, ou mantém o conteúdo aberto, servindo de combustível para a IA da companhia que, na visão dos executivos, ameaça o futuro do jornalismo.