Guillermo del Toro critica IA no cinema em premiação

O renomado cineasta mexicano Guillermo del Toro criticou o uso de inteligência artificial (IA) no cinema durante o Gotham Awards, realizado na segunda-feira (1), em Nova York. Del Toro recebeu o Vanguard Tribute por seu novo filme, ‘Frankenstein’, e aproveitou o momento para expressar sua forte oposição à tecnologia.
Um discurso apaixonado contra a IA
Acompanhado no palco pelos protagonistas de ‘Frankenstein’, Jacob Elordi (que interpreta a Criatura) e Oscar Isaac (Victor Frankenstein), Del Toro iniciou seu discurso homenageando Mary Shelley, autora do romance que inspirou o filme. Ele revelou que leu o clássico aos 11 anos e, desde então, sonhava em adaptá-lo para o cinema.
Del Toro expressou que, através da obra de Shelley e da interpretação de Boris Karloff, ele percebeu que não se encaixava no mundo da forma como esperavam. Ele se sentia parte de uma terra distante, habitada por monstros e desajustados, que se tornaram sua família. Retornar a essa história agora, aos 61 anos, com artistas como Isaac e Elordi, tem sido um dos maiores privilégios de sua vida.
Após breves falas de Elordi e Isaac, Del Toro voltou ao palco para agradecer ao elenco e à equipe técnica. Ele enfatizou que a arte de todos brilha em cada frame do filme, que foi feito deliberadamente por humanos, para humanos. O cineasta fez questão de nomear os designers, construtores, equipes de maquiagem, figurinistas, diretores de fotografia, compositores e montadores, dedicando a eles a homenagem.
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Aversão à IA não é novidade
A crítica de Guillermo del Toro à IA não é recente. Em outubro, ele já havia declarado que preferia morrer a usar IA generativa em seus filmes. Em uma entrevista ao podcast Fresh Air, da NPR, quando questionado se havia recorrido à tecnologia em ‘Frankenstein’, ele respondeu: ‘IA, especialmente IA generativa, não me interessa, nem jamais me interessará’.
Del Toro traçou um paralelo entre a IA e o comportamento de Victor Frankenstein, afirmando que sua preocupação não é com a inteligência artificial, mas com a estupidez natural. Ele acredita que os entusiastas da IA, assim como o personagem de Mary Shelley, estão cegos pelo poder da criação tecnológica e não consideram as consequências de seus atos.
O impacto da IA no cinema
A inteligência artificial tem se tornado cada vez mais presente na indústria cinematográfica, impactando diversas áreas, como efeitos especiais, edição, trilha sonora e até mesmo a criação de roteiros. A IA pode ser utilizada para criar personagens virtuais realistas, analisar cenas, gerar automaticamente trilhas sonoras e reduzir custos de produção.
No entanto, a crescente utilização da IA também levanta questões éticas e criativas. A substituição de atores humanos por personagens digitais e a recriação de figuras públicas sem consentimento são algumas das preocupações. Além disso, a automação de tarefas pode levar à substituição de empregos e desequilíbrios econômicos no setor.
O futuro do cinema
O debate sobre o uso da IA no cinema está em ebulição em Hollywood. Enquanto alguns defendem o uso da tecnologia para aprimorar a produção e reduzir custos, outros, como Guillermo del Toro, alertam para os riscos da perda da essência humana na arte.
Del Toro defende o trabalho artesanal e a importância da emoção, do conhecimento e da personalidade na criação artística. Ele acredita que a verdadeira inovação e qualidade no cinema dependem da interação humana direta com cada obra.
O cineasta não está sozinho nessa luta. Diretores como Christopher Nolan, Emma Thompson e Alex Garland também manifestaram preocupações semelhantes, defendendo que o cinema deve proteger sua dimensão humana frente ao avanço tecnológico.
Resta saber como essa discussão irá moldar o futuro do cinema e qual será o papel da inteligência artificial na sétima arte.
