IA auxilia pesquisadores em tarefas acadêmicas

Pesquisadores estão utilizando cada vez mais ferramentas de inteligência artificial (IA) para auxiliar em tarefas acadêmicas, como escrita, revisão de textos, cálculos e até na escolha de revisores para artigos científicos. Um levantamento da editora Wiley, com quase 5 mil pesquisadores de mais de 70 países, incluindo 143 do Brasil, revelou que há uma percepção crescente de que a IA vai remodelar o campo da pesquisa nos próximos anos.
Ferramentas de IA e suas aplicações
As ferramentas de IA generativa têm se mostrado úteis em diversas atividades. Mais da metade dos entrevistados na pesquisa da Wiley consideram que a tecnologia já supera os humanos em tarefas como mapear possíveis colaboradores, gerar resumos ou conteúdos educacionais a partir de artigos científicos, verificar plágio, preencher referências bibliográficas e monitorar publicações em áreas específicas.
No entanto, a maioria dos participantes acredita que os humanos ainda são insubstituíveis em trabalhos que exigem previsão de tendências, seleção de revistas para publicação, escolha de revisores, gerenciamento de tarefas administrativas e busca por oportunidades de financiamento.
Exemplos de ferramentas e seus usos
- NotebookLM (Google): Permite fazer perguntas sobre temas de pesquisa e obter resumos com base no conteúdo compilado pelo programa, “conversando” simultaneamente com até 50 arquivos.
- LitMaps e Scite: Softwares que auxiliam na revisão da literatura, gerando mapas interativos que mostram as conexões entre diferentes artigos científicos.
- Claude.ai: Chatbot concorrente do ChatGPT, útil para gerar estruturas de textos acadêmicos e de divulgação científica.
- MathGPT: Programa para soluções matemáticas.
- ChatGPT, Copilot e DeepSeek: Softwares com função de pesquisa profunda (deep research) que fazem buscas avançadas na web e geram relatórios com sínteses e fontes das informações.
- SciSpace: Ferramenta que busca artigos científicos e apresenta resumos.
- Answer This e Elicit: Permitem explorar múltiplas bases de dados científicos, como PubMed e Scopus, com filtros para otimizar a busca.
Veja também:
Preocupações e desafios
Apesar do crescente interesse, 81% dos pesquisadores expressaram preocupações quanto a possíveis vieses nos resultados gerados por IA, riscos à privacidade e falta de transparência na forma como essas ferramentas são treinadas. Quase dois terços relataram que a falta de orientação e treinamento os impede de usar a IA tanto quanto gostariam.
Rafael Sampaio, cientista político da UFPR, ressalta a importância de órgãos como Capes e CNPq criarem diretrizes orientadoras sobre o uso ético e responsável dessas ferramentas. Ele e outros pesquisadores lançaram um guia com diretrizes nesse sentido.
Recomendações e cuidados
Ricardo Limongi, da UFG, adverte que o uso excessivo e sem um olhar crítico desses softwares pode atrofiar habilidades essenciais dos futuros cientistas. Ele reforça que a IA é uma auxiliar, mas o pesquisador é quem planeja e conduz seu estudo.
Edgar Dutra Zanotto, da UFSCar, utiliza múltiplos chatbots para cruzar dados e obter informações mais confiáveis, evitando problemas como vieses e “alucinações” (invenção de termos e referências).
Cristina Godoy, da FDRP-USP, toma o cuidado de não utilizar trechos de trabalhos não publicados em buscas, para evitar que o conteúdo seja usado para treinar as ferramentas e apareça nos resultados de outros usuários.
Em suma, a inteligência artificial oferece um vasto leque de possibilidades para otimizar o trabalho de pesquisadores, mas requer atenção, treinamento e diretrizes éticas para garantir seu uso responsável e eficaz.