IA: Brasil Investe em Meio a Bolha de Capital Fictício?

O investimento em inteligência artificial (IA) tem sido apontado como a nova fronteira do capital fictício, um castelo de cartas sustentado por otimismo algorítmico e gastos exorbitantes, mas com fundamentos econômicos frágeis. Enquanto a produtividade estagna e os lucros das big techs desaceleram, a promessa de uma superinteligência transformadora parece mais mito do que realidade.
O Cenário Global e o Brasil
Globalmente, os Estados Unidos lideram os investimentos em IA, com mais de US$ 249 bilhões em 2023. Esse montante engloba aportes públicos e privados, demonstrando a busca por inovação, infraestrutura, pesquisa e capacitação de talentos. A China também se destaca, com um modelo mais centralizado, forte controle estatal e foco em aplicações voltadas à produtividade, vigilância e inovação militar. Na Europa, países como Reino Unido, Alemanha e França investem em uma abordagem que combina desenvolvimento com governança ética e transparência, focando em áreas como saúde pública, meio ambiente e inclusão social.
Apesar do potencial econômico da IA, um relatório da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) revela que a região está atrasada na adoção dessa tecnologia, com investimentos representando apenas 1,56% do total global (US$ 2,6 bilhões em 2023), embora responda por 6,3% do PIB mundial. No entanto, a IA já contribui para o crescimento econômico, especialmente no Brasil e no México, onde o impacto anual chega a US$ 5,3 bilhões em cada país.
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Investimentos no Brasil
O governo brasileiro anunciou um plano de investimento de R$ 23 bilhões em inteligência artificial até 2028, com o objetivo de desenvolver tecnologias sustentáveis e voltadas para a sociedade. O plano prevê recursos para setores como saúde pública, agricultura, meio ambiente, negócios e educação. Apesar desse investimento, a CEPAL aponta que o valor investido pelo Brasil representa apenas 30% do potencial econômico do país, estimado em US$ 3,46 bilhões.
O Brasil teve um déficit de US$ 7,1 bilhões no item Telecomunicações, Computação e Informações da Balança de Serviços em 2024. Esse número, embora possa parecer pequeno, revela uma crescente dependência tecnoeconômica, especialmente em relação às big techs.
Aplicações e Implicações da IA
A inteligência artificial já é uma realidade na gestão de recursos, com capacidade de processar muito mais informações que os seres humanos. Algoritmos de IA analisam notícias, redes sociais, relatórios financeiros e até o tom de voz de CEOs para prever movimentos de mercado e o sentimento dos investidores. Além disso, sistemas de IA são utilizados na gestão de risco, detecção de fraudes e modelagem de cenários de estresse para portfólios de investimento.
No entanto, o avanço da IA também traz desafios. O ministro do Trabalho e Emprego em exercício, Chico Macena, alertou para os efeitos desiguais da IA no mercado de trabalho brasileiro. Segundo o FMI, cerca de 45% da força de trabalho brasileira está exposta à IA, mas apenas 15% apresentam alta complementaridade com a tecnologia, enquanto os demais correm o risco de substituição.
O Debate sobre a Bolha da IA
Michael Roberts, economista, argumenta que o investimento em IA é um capital fictício, ou seja, meros direitos de saque sem contrapartida imediata de geração de valor. Ele compara a situação atual com a bolha de TI da década de 1990, alertando que as ações das “sete magníficas” (NVIDIA, Microsoft, Alphabet, Apple, Meta, Tesla e Amazon) estão supervalorizadas.
Apesar das preocupações com a bolha, muitos acreditam no potencial transformador da IA. Eduardo Mira, da Forbes Brasil, destaca que a IA não é uma tecnologia do futuro distante, mas uma realidade presente que está transformando a forma como decisões são tomadas, riscos são avaliados e carteiras são montadas.
Considerações Finais
O investimento em inteligência artificial apresenta tanto oportunidades quanto desafios. É crucial que o Brasil invista em infraestruturas soberanas, capacitação de mão de obra e regulamentação ética para garantir que a IA seja utilizada de forma a promover o desenvolvimento econômico e social, sem aprofundar as desigualdades e a dependência tecnoeconômica.