IA no Direito: Avanço e Ética em Debate

A inteligência artificial (IA) está transformando o setor jurídico, trazendo consigo um aumento de eficiência e inovação, mas também levantando questões éticas e desafios que exigem um equilíbrio cuidadoso. A aplicação da IA no direito brasileiro está redefinindo a forma como advogados, juízes e outros profissionais lidam com processos e informações jurídicas.
Adoção e Aplicações Atuais da IA no Setor Jurídico
O Brasil tem visto uma rápida adoção de IA no setor jurídico, com mais de 55% dos advogados utilizando ferramentas de IA generativa em 2025. No Poder Judiciário, os projetos de IA cresceram mais de 26% entre 2022 e 2023, totalizando 140 projetos em 62 tribunais. Esse crescimento acompanha o volume de 84 milhões de processos judiciais em 2024 e as iniciativas do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, com investimentos até 2028.
As aplicações da IA no direito são diversas, incluindo:
- Gestão documental: Ferramentas de IA podem reduzir em mais de 70% o tempo de revisão de contratos.
- Pesquisa jurídica: A jurimetria identifica padrões e prevê resultados processuais.
- Automação de tarefas: Elaboração de minutas e outras tarefas rotineiras são amplamente automatizadas.
- Triagem processual: Sistemas de IA como VICTOR (STF) e ATHOS (STJ) auxiliam na triagem e admissibilidade de recursos, otimizando fluxos e gerenciando a alta demanda processual.
- Análise preditiva: Ferramentas de análise preditiva permitem prever desfechos de ações com base em dados históricos, otimizando estratégias processuais.
- Atendimento ao cliente: Chatbots melhoram a eficiência no relacionamento com clientes, oferecendo respostas rápidas e precisas.
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Desafios e Riscos da IA no Direito
Apesar dos benefícios, a IA no setor jurídico também apresenta desafios e riscos significativos:
- Vieses algorítmicos: A IA pode perpetuar preconceitos existentes nos dados de treinamento, levando a decisões discriminatórias.
- Falta de transparência: A opacidade de certos algoritmos dificulta a compreensão de como as decisões são tomadas.
- Responsabilidade: A definição de responsabilidade em caso de danos causados por decisões da IA é um desafio jurídico complexo.
- Privacidade e proteção de dados: A coleta massiva de dados para treinar sistemas de IA levanta preocupações sobre a proteção da privacidade individual.
- Segurança cibernética: A segurança dos dados e a proteção contra fraudes e manipulação digital são cruciais.
- Desigualdade no acesso à justiça: É preciso garantir que a IA não aprofunde as desigualdades existentes.
- Qualidade dos dados: Informações incorretas ou desatualizadas podem prejudicar os resultados, gerando conclusões equivocadas.
Ética e Regulamentação da IA no Direito
A questão ética desempenha um papel fundamental no uso da IA no campo jurídico. A preservação dos direitos fundamentais, como privacidade, liberdade de expressão e devido processo legal, deve ser assegurada. A OAB aprovou diretrizes éticas para o uso de IA generativa, garantindo seu uso responsável na advocacia e promovendo a inovação com ética, qualidade e proteção de dados.
A regulamentação da IA é um dos grandes desafios enfrentados pelo Direito na atualidade. Países ao redor do mundo estão desenvolvendo ou aprimorando legislações para regulamentar o uso da IA. No Brasil, o CNJ e a ANPD atuam na supervisão e orientação quanto ao uso ético e responsável da IA.
O Futuro da IA no Direito
O futuro do direito com a IA dependerá de uma educação jurídica adaptada, da criação de marcos regulatórios claros e de uma colaboração produtiva entre profissionais do direito e da tecnologia. A IA deve ser vista como uma aliada, não como substituta, na construção de um sistema jurídico mais justo, eficiente e acessível.
A crescente integração da IA exige que os advogados desenvolvam novas habilidades, como o entendimento de tecnologias, a análise crítica de dados e a capacidade de trabalhar em equipes interdisciplinares. A chamada Advocacia 4.0 representa a integração entre o modelo jurídico tradicional e a inovação tecnológica.
Apesar dos receios de que a IA possa substituir advogados e juízes, a substituição completa é improvável. O fator humano, incluindo interpretação, ética e julgamento, ainda é essencial para a justiça. A IA deve ser uma ferramenta para aumentar a produtividade e minimizar despesas, mas deve ser utilizada com moderação.
O Brasil, com seu expressivo volume processual e mercado de legaltechs em expansão, pode se tornar um laboratório global para a implementação de IA no setor legal. No entanto, as escolhas atuais sobre regulação, educação e combate a vieses determinarão se a IA promoverá maior equidade ou aprofundará desigualdades existentes.
É fundamental reconhecer os riscos e limitações que acompanham esse avanço. Entre os principais desafios estão a opacidade de certos algoritmos, o viés presente nos dados utilizados para treiná-los e a dificuldade de garantir que decisões automatizadas estejam em conformidade com princípios éticos e constitucionais.
A transparência dos dados, a verificação dos resultados e a implementação de medidas de segurança cibernética são fundamentais para promover a confiança, mitigar riscos e assegurar a justiça e a proteção dos direitos fundamentais.