IA pesa bois e corta custos na pecuária

Uma startup brasileira, a Olho do Dono, do Espírito Santo, desenvolveu uma tecnologia inovadora baseada em inteligência artificial (IA) e visão computacional para pesar gado a campo sem o uso de balanças convencionais. O sistema promete reduzir custos operacionais, otimizar o manejo e preservar o bem-estar animal.
Origem e Desenvolvimento
A ideia surgiu há cerca de dez anos, quando gestores de um family office perceberam a dificuldade em avaliar economicamente uma fazenda de pecuária devido à incerteza no número de cabeças e no peso total do gado. A proposta foi criar uma ferramenta que reproduzisse a capacidade do pecuarista experiente em estimar o peso do boi, de forma automática e precisa.
Pedro Henrique Mannato, um dos fundadores e CEO da Olho do Dono, destaca que a ideia surgiu quando a inteligência artificial no campo era pouco explorada. A startup consolidou uma base de dados com mais de 1,5 milhão de imagens 3D de bovinos associadas ao peso de balança, coletadas em fazendas do Brasil, Argentina, Paraguai e México. Esse banco de dados alimenta os algoritmos do sistema.
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Como Funciona a Tecnologia
O sistema utiliza uma câmera 3D portátil, resistente à água e com autonomia de energia. O produtor posiciona a câmera no caminho de passagem do boi, que é filmado ao atravessar por baixo dela. É possível filmar até 100 animais em cinco minutos. Os vídeos são processados na nuvem, gerando relatórios detalhados com informações como peso individual e por lote, contagem de cabeças e ganho médio diário (GMD). A integração com leitores de brinco permite monitorar o histórico de cada animal.
Segundo os desenvolvedores, é possível pesar até 250 animais em apenas 20 minutos, com o apoio de dois vaqueiros. O índice de precisão é, em média, de 97%, comparado com a balança de curral tradicional.
Vantagens e Impacto no Setor
O método elimina gastos com transporte, mão de obra e manutenção de balanças, além de gerar dados estratégicos para a gestão da produção. O monitoramento pode ser feito com frequência, ao contrário da prática comum de pesar o gado apenas duas vezes por ano, durante o período de vacinação.
Pesar o gado no sistema tradicional exige que o boi ande longas distâncias até o curral, onde muitas vezes passa o dia sem alimento e água. O processo é estressante para o animal, que pode se acidentar e ter que ser abatido, gerando perdas. A tecnologia foi criada para resolver esse problema e mudar um hábito enraizado na pecuária.
A solução já é utilizada em rebanhos que variam de 500 a 120 mil cabeças em diversos países e por grandes empresas como a JBS. A startup está criando modalidades para atender pequenos produtores.
Reconhecimento e Investimentos
A Olho do Dono já recebeu reconhecimento nacional e internacional, sendo eleita a melhor agtech do Brasil no prêmio Embrapa Siagro. A startup venceu o 1º TechCrunch Startup Battlefield da América Latina, além de ser premiada como melhor startup agro no InterCorte e uma das vencedoras do Finep Startup. Recentemente, a startup recebeu um aporte de R$ 2,2 milhões.
Inteligência Artificial na Pecuária
A inteligência artificial está transformando a pecuária, permitindo aos produtores obter dados precisos sobre cada animal, pastagem e manejo, simplificando e potencializando a gestão das propriedades. Sensores instalados em brincos eletrônicos podem medir temperatura, peso e localização geográfica dos animais, gerando informações detalhadas em tempo real. A IA auxilia nas decisões estratégicas, permitindo identificar rapidamente pastagens menos produtivas e ajustar o manejo nutricional.
A inteligência artificial também permite antecipar cenários econômicos importantes, como o momento ideal para a venda dos animais, baseado em tendências do mercado global de carne. Além disso, sistemas integrados com IoT (Internet das Coisas) e análise de big data permitem ajustes individualizados na alimentação dos animais.
A IA também está sendo utilizada para monitorar a saúde animal em tempo real, identificando alterações comportamentais e fisiológicas que podem indicar estresse, dor ou doença. Isso permite um manejo sanitário e reprodutivo mais eficiente, reduzindo perdas e aumentando a eficiência do plantel.