IA traduz pensamentos em palavras via ressonância magnética

Um cientista no Japão desenvolveu uma nova técnica que utiliza exames cerebrais e inteligência artificial para transformar imagens mentais em frases descritivas precisas. O método, conhecido como “legendagem mental”, representa um avanço significativo na neurotecnologia.
Como funciona a “legendagem mental”?
Tomoyasu Horikawa, pesquisador dos Laboratórios de Ciência da Comunicação da NTT, nos arredores de Tóquio, é o criador desta inovação. Ele explica que, embora já existam avanços no uso de exames de atividade cerebral para traduzir palavras que pensamos em texto, converter nossas complexas imagens mentais em linguagem tem se mostrado um desafio. O novo método utiliza IA para gerar texto descritivo que reflete informações do cérebro sobre detalhes visuais como objetos, lugares, ações e eventos, bem como as relações entre eles.
Horikawa e sua equipe analisaram a atividade cerebral de seis adultos japoneses enquanto eles assistiam a 2.180 videoclipes silenciosos, contendo cenas variadas. Modelos de linguagem generativa transformaram as legendas desses vídeos em sequências numéricas, e os cientistas treinaram decodificadores para associar esses dados às respostas cerebrais.
Em seguida, os decodificadores foram aplicados à atividade neural dos voluntários enquanto assistiam ou recordavam vídeos inéditos para o sistema, produzindo sequências de palavras que correspondiam às imagens processadas pelo cérebro. O sistema conseguiu gerar descrições em inglês, mesmo que os participantes não fossem falantes nativos do idioma.
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Potencial e aplicações
Especialistas apontam que o avanço pode abrir caminho para novas formas de comunicação assistiva. Segundo Horikawa, o método pode funcionar mesmo quando a área do cérebro relacionada à linguagem está danificada, o que indica potencial para auxiliar pessoas com afasia, esclerose lateral amiotrófica (ELA) e indivíduos não verbais.
Scott Barry Kaufman, psicólogo e professor do Barnard College em Nova York, que não participou do estudo, acredita que esta pesquisa abre caminho para intervenções profundas para pessoas com dificuldade de comunicação, incluindo pessoas autistas não verbais.
Limitações e considerações éticas
Apesar do avanço, a tecnologia ainda enfrenta limitações. O sistema precisa de uma grande quantidade de dados pessoais para treinamento e da cooperação total do paciente durante o processo. Além disso, a tecnologia depende de equipamentos volumosos e caros, como a ressonância magnética.
O estudo também destacou preocupações éticas relacionadas à privacidade, já que futuras versões da tecnologia poderiam eventualmente decodificar conteúdos de sonhos, pensamentos de bebês, animais ou ideias não verbalizadas. Horikawa ressalta que a abordagem atual não consegue facilmente ler os pensamentos privados de uma pessoa.
É importante usar essa tecnologia com cuidado e garantir que não estamos sendo invasivos e que todos consintam com isso.
Outros pesquisadores têm trabalhado em interfaces cérebro-máquina (BCI) capazes de traduzir pensamentos em palavras em tempo real. Embora ainda em fase experimental, a tecnologia tem o potencial de ajudar pessoas que perderam a capacidade de falar a se comunicarem novamente.
Um estudo publicado na revista Cell combina implantes cerebrais com modelos de inteligência artificial e pode mudar a vida de pessoas que perderam a capacidade de falar.
Pesquisadores da Universidade do Texas em Austin desenvolveram um decodificador cerebral baseado em inteligência artificial que traduz pensamentos humanos em texto de forma precisa e rápida, sem a necessidade de implantes cerebrais.
Apesar dos avanços promissores, a tecnologia de tradução de pensamentos em palavras ainda enfrenta desafios e levanta questões importantes sobre privacidade e ética. No entanto, o potencial para melhorar a comunicação e a qualidade de vida de pessoas com dificuldades de fala é inegável.
