Polícia Brasileira Adota IA em Investigações Criminais

O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) autorizou o uso de Inteligência Artificial (IA) e outras tecnologias avançadas em investigações criminais por órgãos de segurança pública em todo o Brasil. A medida, oficializada através da Portaria nº 961, publicada no Diário Oficial da União, visa modernizar as ações policiais, garantindo maior eficiência no combate ao crime, mas sem comprometer os direitos fundamentais dos cidadãos.
Abrangência da Regulamentação
A regulamentação se aplica tanto às forças federais, como a Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Penal Federal e Nacional, e à Força Nacional de Segurança Pública, quanto aos órgãos estaduais, distritais e municipais que recebem recursos dos Fundos Nacionais de Segurança Pública (FNSP) e Penitenciário (FPN). Além disso, alcança o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), bem como as secretarias nacionais de Segurança Pública (Senasp) e de Políticas Penais (Senappen).
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Objetivos e Aplicações da IA na Segurança Pública
O principal objetivo da portaria é modernizar a atuação das forças de segurança brasileiras, permitindo o uso de ferramentas tecnológicas para otimizar investigações criminais e garantir a segurança pública. As aplicações da IA incluem:
- Reforço da segurança em estabelecimentos prisionais: Detecção, localização e bloqueio de sinais de dispositivos móveis, como celulares e tablets, além do acesso a informações armazenadas nesses aparelhos quando apreendidos.
- Análise de dados e reconhecimento facial: Identificação de padrões de comportamento e reconhecimento de indivíduos em tempo real através de câmeras de vigilância.
- Análise preditiva de crimes: Antecipação de atividades criminosas com base em dados históricos e comportamentais.
- Monitoramento de redes sociais: Identificação e resposta a novas ameaças com maior agilidade e precisão.
Salvaguardas e Limitações
A portaria estabelece critérios rigorosos para proteger os direitos fundamentais dos cidadãos. O uso de tecnologias para obtenção de dados sigilosos só será permitido com autorização judicial, exclusivamente para fins de investigação criminal e instrução processual. Além disso, dados irrelevantes ou de terceiros devem ser descartados.
Uma das principais restrições é a proibição do uso de aparatos que permitam a identificação biométrica à distância, em tempo real e em espaços públicos, exceto em casos específicos, como busca de vítimas de crimes, pessoas desaparecidas ou em flagrante.
Desafios e Considerações Éticas
Apesar dos benefícios, a implementação da IA na segurança pública também apresenta desafios éticos e preocupações com a privacidade. A coleta massiva de dados e o uso de tecnologias de vigilância levantam questões sobre a proteção da privacidade dos cidadãos e o possível uso indevido das informações. É essencial que haja regulamentações claras e políticas transparentes para garantir o uso responsável e ético da IA.
Outro desafio é o risco de viés algorítmico e discriminação, uma vez que o treinamento de modelos de IA em dados históricos pode perpetuar desigualdades presentes na sociedade. Portanto, é necessário cuidado na seleção e preparação dos dados utilizados nos algoritmos.
Recomendações e Próximos Passos
Para garantir o uso ético e eficaz da IA na segurança pública, é fundamental a cooperação entre especialistas em IA, profissionais de segurança pública, juristas e a sociedade civil. A criação de diretrizes e regulamentações adequadas, bem como a transparência no uso dessas tecnologias, são essenciais para construir a confiança da sociedade nas forças de segurança.
Os órgãos de segurança terão um prazo de 90 dias para adaptar suas normativas internas às novas diretrizes, que já estão em vigor. A medida representa um avanço significativo na modernização das forças de segurança brasileiras, posicionando o país na vanguarda da aplicação responsável de tecnologia para a proteção da sociedade.