Tecnologia brasileira de IA no SUS ganha destaque global e reduz erros médicos

Tecnologia NoHarm: O Avanço da IA Brasileira na Saúde Pública
O Brasil solidifica sua posição no cenário global de inovação em inteligência artificial (IA) com o desenvolvimento da NoHarm, uma plataforma de IA voltada para a saúde pública. A tecnologia, que atua na detecção de erros em prescrições médicas no Sistema Único de Saúde (SUS), ganhou reconhecimento internacional, culminando na inclusão de sua cofundadora, Ana Helena Ulbrich, na prestigiada lista das 100 pessoas mais influentes em IA da revista Time. Ao contrário de muitas startups tradicionais, a NoHarm opera como uma iniciativa sem fins lucrativos, oferecendo sua solução gratuitamente ao SUS e priorizando o impacto social sobre o lucro financeiro. A plataforma processa milhões de prescrições mensalmente, elevando significativamente a segurança do paciente e reduzindo a taxa de erros médicos em hospitais públicos brasileiros.
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A Origem da NoHarm: Da Frustração de uma Farmacêutica à Inovação em IA
A gênese da NoHarm remonta a 2017, durante as conversas de domingo entre a farmacêutica Ana Helena Ulbrich e seu irmão, o cientista da computação Henrique Dias. Ana Helena trabalhava no Grupo Hospitalar Conceição, a maior rede de hospitais públicos do Sul do Brasil, e enfrentava uma rotina de trabalho exaustiva. Diariamente, ela precisava analisar centenas de prescrições médicas em um curto espaço de tempo, muitas vezes com mais de 20 medicamentos por receita, o que gerava uma sensação de insegurança e o risco iminente de erros. Essa realidade, onde a pressão do tempo se chocava com a necessidade de precisão, motivou a busca por uma solução tecnológica. Henrique, que já trabalhava com detecção de valores atípicos em algoritmos, propôs aplicar essa lógica para identificar anomalias nas prescrições médicas, dando vida à ideia da NoHarm.
A iniciativa foi concebida com um propósito social claro. Os irmãos, provenientes de uma família de servidores públicos e formados em universidades públicas, viram na NoHarm uma forma de retribuir à sociedade o que haviam recebido. Essa motivação se traduziu na decisão de oferecer a tecnologia de forma 100% gratuita ao SUS, rejeitando propostas de financiamento privado que visavam transformar a NoHarm em um negócio lucrativo. A plataforma iniciou suas operações em 1º de abril de 2020, com a primeira prescrição avaliada na Santa Casa de Porto Alegre.
Impacto no SUS e Reconhecimento Global
Melhoria na Segurança do Paciente e Redução de Erros
A NoHarm atua como um sistema de suporte à decisão clínica. A plataforma integra dados do prontuário do paciente, como exames e comorbidades, e utiliza a inteligência artificial para alertar os farmacêuticos sobre potenciais riscos ou inconsistências nas prescrições. A tecnologia não substitui o julgamento profissional, mas aprimora a capacidade de análise dos farmacêuticos, permitindo que eles identifiquem riscos que antes passavam despercebidos.
Os resultados da implementação da NoHarm em hospitais do SUS demonstram um impacto significativo na segurança do paciente e na eficiência dos processos. Em um estudo realizado em um hospital público de Minas Gerais, a adoção da plataforma elevou a taxa de prescrições analisadas de 0,6% para 49%. Mais crucialmente, a taxa de erros de prescrição, que era de 13%, caiu drasticamente para 0,3% após a implementação da NoHarm. A cada ano, cerca de 1,4 milhão de brasileiros são vítimas de falhas no cuidado médico, com intercorrências evitáveis, incluindo erros de prescrição, que resultam em cerca de 829 mortes diárias no país. A NoHarm atua diretamente para mitigar esses riscos, contribuindo para a redução de mortes evitáveis.
Alcance e Modelo de Financiamento Social
Atualmente, a NoHarm está presente em cerca de 200 hospitais, clínicas e centros de tratamento em todas as regiões do Brasil, a maioria deles públicos. A plataforma analisa aproximadamente 5 milhões de prescrições por mês, beneficiando mais de 2,5 milhões de pacientes. A distribuição gratuita da tecnologia para o SUS reflete a proporção do atendimento hospitalar brasileiro, onde cerca de 70% dos serviços são realizados pela rede pública.
A manutenção da NoHarm é financiada por investimentos sociais e doações, provenientes de programas de apoio à inovação social e de saúde. A iniciativa recebeu apoio de editais como o do BNDES, ligado ao programa “Juntos pela Saúde”, e de grandes organizações internacionais como o Google (Latin America Research Awards – LARA) e a Fundação Gates. Essa abordagem de financiamento permite que a tecnologia se mantenha acessível e focada em seu propósito social, sem a pressão de gerar lucros.
Reconhecimento Internacional da Co-fundadora
O impacto da NoHarm transcendeu as fronteiras nacionais. Em setembro de 2025, a revista Time incluiu Ana Helena Ulbrich em sua lista das 100 pessoas mais influentes do mundo em inteligência artificial. Ao lado de figuras proeminentes como Elon Musk, Mark Zuckerberg e Sam Altman, Ana Helena foi reconhecida por sua contribuição inovadora no campo da IA. Esse reconhecimento coloca a iniciativa brasileira em pé de igualdade com os grandes players globais de tecnologia, destacando a capacidade do Brasil de gerar inovações com impacto social e relevância internacional.
Perspectivas Futuras e o Papel do Brasil na IA Global
O sucesso da NoHarm é um exemplo de como o Brasil pode se destacar na criação de tecnologia, superando o papel tradicional de mero consumidor de inovações estrangeiras. A iniciativa demonstra que a combinação de conhecimento técnico local (Henrique Dias) e experiência prática na realidade do SUS (Ana Helena Ulbrich) pode gerar soluções robustas e eficazes.
Apesar do foco atual ser 100% no Brasil, os fundadores da NoHarm consideram a possibilidade de internacionalizar a tecnologia no futuro, reconhecendo que a demanda por soluções de segurança do paciente é global. A NoHarm também adota um modelo de código aberto, incentivando que outras iniciativas criem plataformas semelhantes, o que contribui para a democratização da IA na saúde. O caso da NoHarm reforça a tese de que o Brasil possui o potencial para se tornar um protagonista na era da IA, aproveitando sua escala populacional e a diversidade de desafios sociais como um laboratório para inovações.
