Vogue usa modelos criadas por IA e gera polêmica

A edição de agosto da revista Vogue nos Estados Unidos causou polêmica ao apresentar um anúncio da marca Guess com modelos criadas por Inteligência Artificial (IA). A iniciativa gerou debates acalorados sobre os padrões de beleza, a autenticidade na moda e o futuro do trabalho para modelos reais.
O Anúncio e a Reação do Público
O anúncio apresenta uma modelo com aparência impecável, vestindo peças da coleção de verão da Guess. Uma nota discreta informa que a modelo foi criada por IA pela agência Seraphinne Vallora. A Vogue esclareceu que a inclusão da modelo sintética foi uma decisão publicitária, e não editorial.
Apesar da explicação, a repercussão online foi imediata e majoritariamente negativa. Muitos internautas criticaram a revista por contribuir para a desvalorização da moda e promover padrões de beleza inatingíveis. Alguns chegaram a classificar a situação como “a queda da Vogue“. Usuários de redes sociais expressaram frustração com o avanço da tecnologia no universo fashion, questionando se esse é o futuro da moda.
Críticos argumentam que, ao usar modelos de IA, a Vogue parece “barata, preguiçosa e desesperada”. A modelo e influenciadora Dane Mercer expressou preocupação com o impacto desses corpos “perfeitos” gerados por IA em adolescentes nas redes sociais.
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A Agência Seraphinne Vallora
A Seraphinne Vallora, responsável pela criação da modelo virtual, foi fundada por Valentina González e Andreea Petrescu, ex-estudantes de arquitetura. A empresa é especializada em desenvolver avatares humanos fotorrealistas para uso comercial.
Valentina González explicou que a criação de modelos de IA surgiu da necessidade de divulgar uma marca de joias sem os custos de modelos reais. A agência entrou em contato com Paul Marciano, cofundador da Guess, pelo Instagram, resultando na colaboração.
González também mencionou que a empresa já publicou imagens de IA de mulheres com diferentes tons de pele, mas que essas imagens não geram tanto engajamento. Ela afirmou que, no final, são um negócio e precisam usar imagens que gerem conversas e atraiam clientes.
O Impacto da IA na Indústria da Moda
A utilização de IA na moda não é novidade. A Vogue Portugal, em junho de 2024, já havia apresentado uma modelo artificial na capa, e a Vogue Itália usou IA para compor o cenário de uma capa estrelada por Bella Hadid em maio de 2023. A Vogue China também publicou uma capa com IA em agosto de 2023.
Apesar das críticas, a presença da IA na indústria da moda parece inevitável. Um levantamento da plataforma Whop revelou que um em cada três consumidores da geração Z já toma decisões de compra com base em recomendações de influenciadores gerados por IA. A H&M anunciou que usará clones digitais de 30 modelos em suas campanhas ao longo de 2025.
Sara Ziff, fundadora da Model Alliance, acredita que a campanha da Guess é uma decisão motivada por custos, e não por inovação. A utilização de IA pode reduzir custos com viagens, autorizações e planejamento.
Os Desafios Éticos e Estéticos
A crescente utilização de modelos de IA levanta questões éticas importantes. A criação de modelos com IA vai além da manipulação de imagens, criando figuras digitalmente perfeitas, sem falhas humanas. O resultado são mulheres jovens, magras e brancas, com cabelos loiros e olhos azuis, o que pode reforçar padrões de beleza irrealistas.
Apesar das preocupações, Andreea Petrescu argumenta que a empresa também cria empregos, contratando modelos reais e fotógrafos para ver como o produto fica em uma pessoa real. Ela acredita que estão expandindo a definição de quem pode criar, abrindo espaço para artistas digitais, designers gráficos, arquitetos e programadores.
A parceria entre a OpenAI e a Condé Nast, editora da Vogue, permitirá que o conteúdo da revista apareça nos resultados de busca do ChatGPT, indicando que a integração da IA continuará a se expandir na indústria editorial. Resta saber como essa integração será feita de forma ética e responsável, sem comprometer a diversidade e a representatividade na moda.