STF decide futuro de motoristas de app sobre vínculo empregatício

O Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou o julgamento que pode mudar o futuro dos motoristas de aplicativo no Brasil. A Corte começou a analisar se existe ou não vínculo empregatício entre os profissionais e as plataformas digitais, como Uber e Rappi. A decisão final terá um impacto significativo em cerca de 10 mil processos que aguardam o posicionamento do STF em todo o país.
O que está em jogo?
O principal ponto de discussão é se os motoristas e entregadores de aplicativos devem ser reconhecidos como empregados, com todos os direitos trabalhistas garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). As empresas de aplicativos, por outro lado, argumentam que são apenas plataformas de intermediação de serviços e que os motoristas têm autonomia para escolher seus horários e jornadas de trabalho.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou contrária ao reconhecimento do vínculo empregatício, argumentando que a Constituição permite diferentes formas de contratação além da CLT. O procurador-geral Paulo Gonet citou decisões anteriores do STF que não reconheceram o vínculo trabalhista nessas relações.
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Argumentos das plataformas
As empresas Rappi e Uber contestam decisões da Justiça do Trabalho que reconheceram o vínculo empregatício com os motoristas e entregadores. A Rappi alega que as decisões trabalhistas desrespeitaram a posição da própria Corte, que entende não haver relação de emprego formal com os entregadores.
A Uber sustenta que é uma empresa de tecnologia, e não do ramo de transportes, e que o reconhecimento de vínculo trabalhista altera a finalidade do negócio da plataforma, violando o princípio constitucional da livre iniciativa de atividade econômica.
Impacto da decisão
Se o STF reconhecer o vínculo empregatício, as plataformas poderão ser obrigadas a assinar a carteira de trabalho dos motoristas, pagar férias, 13º salário e FGTS, arcar com contribuições previdenciárias e fornecer suporte jurídico e médico em caso de acidentes.
Essa decisão pode gerar um aumento nos custos para as empresas, que podem repassar esses custos para os consumidores, aumentando os preços das corridas e das entregas. Além disso, as empresas podem rever suas políticas e rotas para absorver os encargos e regras de jornada.
O que dizem os especialistas?
O advogado trabalhista Hugo Vilar explicou que o impasse não é simples e que o STF não conseguirá criar uma figura híbrida que atenda especificamente o trabalhador de aplicativo. Ele ressaltou que muitas plataformas têm recorrido ao cadastro de trabalhadores como Microempreendedores Individuais (MEI), garantindo o recolhimento de impostos e contribuição previdenciária.
Vilar também chamou a atenção para os riscos enfrentados pelos entregadores e motoristas no dia a dia, como acidentes e longas jornadas de trabalho. Ele defende que é preciso regulamentar adequadamente essa atividade.
PL dos Aplicativos
Enquanto o STF discute o tema, o Congresso Nacional também analisa o Projeto de Lei (PL) dos Aplicativos, que busca regulamentar o trabalho dos motoristas de aplicativo. O PLP 12/2024 cria a categoria “trabalhador autônomo por plataforma” e estabelece uma remuneração mínima de R$32,10 por hora, além de uma carga máxima de 12 horas diárias em cada aplicativo.
O objetivo do PL é garantir aos motoristas de aplicativos um pacote de direitos trabalhistas e previdenciários, sem que haja interferência na autonomia que eles têm para escolher horários e jornadas de trabalho. O projeto ainda está em discussão e pode sofrer alterações.
Próximos passos
O julgamento no STF deve continuar nos próximos dias, com a apresentação de argumentos das partes envolvidas e a análise dos ministros. A decisão final da Corte terá um impacto significativo no futuro dos motoristas de aplicativo no Brasil.