Tarifa de Trump retém mil toneladas de peixes em portos brasileiros

A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos, anunciada pelo governo de Donald Trump, paralisou a exportação de pescados e reteve cerca de mil toneladas de peixes em portos brasileiros. A medida, que surpreendeu o setor, já causa impacto significativo na economia nacional.
Impacto Imediato nos Portos
A Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) informou que aproximadamente 60 contêineres, carregados com as mil toneladas de peixe, estão retidos em portos como Salvador (BA), Pecém (CE) e Suape (PE). Os embarques foram suspensos pelos próprios compradores norte-americanos, que demonstraram incerteza sobre os novos custos e tarifas.
Eduardo Lobo Naslavsky, presidente da Abipesca, explicou que os importadores aguardam clareza sobre os custos adicionais e muitos já sinalizaram o desejo de renegociar os contratos. A medida provisória tem causado desespero no setor, com risco imediato para toda a cadeia produtiva.
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Repercussões na Cadeia Produtiva
O setor pesqueiro brasileiro movimenta cerca de R$ 20 bilhões por ano, com exportações que alcançam aproximadamente US$ 600 milhões. Os Estados Unidos são o principal destino dessas exportações, absorvendo entre 70% e 80% das vendas. A tilápia lidera as espécies exportadas, seguida pelo tambaqui.
A paralisação das exportações ameaça a continuidade dos contratos comerciais e a manutenção de empregos no Brasil. A Peixe BR destaca que a piscicultura está presente em 237.669 estabelecimentos rurais no país, gerando mais de 1 milhão de empregos diretos e indiretos.
Jairo Gund, diretor-executivo da Abipesca, aponta que o cenário é catastrófico para as exportações, com cancelamento geral de contratos. Ele destaca que a preocupação dos compradores é saber se a tarifa de 50% será aplicada no momento da partida do produto ou no desembarque. O temor dos exportadores é ter que arcar com os custos de retorno da mercadoria.
Reações e Perspectivas
Diante da crise, a Abipesca pediu ao governo brasileiro uma abordagem cautelosa e diplomática para resolver a questão, evitando medidas retaliatórias que possam agravar a situação. A associação também solicitou que o governo acelere as negociações com o mercado europeu, buscando diversificar os destinos da produção nacional.
O governo brasileiro, por sua vez, avalia a situação e discute possíveis reações. A medida de Trump pegou o país de surpresa, já que o Brasil não era considerado um alvo prioritário nas negociações comerciais dos EUA.
Impacto nas Comunidades de Pesca Artesanal
A tarifa imposta por Trump afeta diretamente as comunidades de pesca artesanal, que dependem das exportações para os Estados Unidos. A pesca de pargo e lagosta, por exemplo, é realizada por comunidades tradicionais, quilombolas e pescadores artesanais.
A suspensão das exportações causa um efeito dominó, interrompendo a cadeia de produção e impactando a vida dos pescadores e suas famílias. A Abipesca teme que a medida leve a demissões e ao cancelamento de compras da pesca artesanal, agravando a situação social dessas comunidades.
Alternativas e Negociações
O setor de pescados busca alternativas para mitigar os impactos da tarifa de Trump. A diversificação dos mercados é uma das principais estratégias, com foco na abertura de negociações com a União Europeia. A Abipesca também espera que o governo brasileiro adote uma postura diplomática para resolver a questão e evitar medidas que possam prejudicar ainda mais o setor.
O governo brasileiro planeja se reunir com representantes dos setores afetados para discutir possíveis medidas e buscar uma solução para o impasse. A expectativa é que, por meio do diálogo e da negociação, seja possível reverter a situação e garantir a continuidade das exportações de pescados para os Estados Unidos.